- Eu (industriais e capitalistas)
- Você (operários)
- Negra Figura (Lei)
(Abrem-se as cortinas)
Eu ― Desçam ao interior da terra. Tragam à luz o
carvão e o ouro, o ferro, a prata e as pedras preciosas.
Você ― Considere feito.
Eu ― Construam fábricas e maravilhosas ferramentas
e modelem o mundo em júbilo e beleza.
Você ― Considere feito.
Eu ― Muito bem, meus homens. Maravilhoso! Quanta
abundância! Quantas riquezas! Todas minhas.
Algumas vozes ― Suas? Por quê? Nós fizemos tudo!
(Comoção no palco)
Mais vozes (enfurecidas) ― São nossas! Nós as fizemos.
Eu ― Silêncio! Eu não mandei que o fizessem?
Vozes ― Mas é nosso. Nós o fizemos.
Eu ― Chamemos a Lei!
(Entra a Negra Figura, vestida de preto, levando uma
Bíblia em uma mão, a espada desembainhada na outra.
As duas mãos com luvas)
(Um silêncio solene quando fala a Lei)
Negra Figura ― É seu. Assim está decretado. A integridade
de nossas justas e livres instituições deve ser
mantida.
(Todos reverentemente ajoelham-se diante da Negra
Figura)
(Sai a Negra Figura)
Eu (orgulhosamente jubiloso) ― É meu, por Lei.
Você ― Nós somos pobres. Nossas esposas precisam
de comida, nossas crianças têm fome.
Eu ― Eu darei a vocês as coisas de que precisam.
Você ― Nos dê! Nos dê!
Eu ― Em troca de mais trabalho. Venderei as coisas
que vocês fazem e lhes darei um salário por isso.
Você ― Salários! Bons salários?
Eu ― Sim, um salário justo.
Você ― Tome, tome! Um salário justo!
Eu ― Entregarei a vocês comida e roupa em troca de
seus salários.
Você ― Um amo carinhoso! Tome, pegue nossos salários!
(Eu pega os salários e entrega escassas rações de
comida)
(Você, depois de ter devorado a comida, em pé com as
mãos vazias, com semblante satisfeito)
Eu (com profunda auto-satisfação) ― A indústria e a
economia são a coluna vertebral de nossa grande prosperidade
nacional.
Você ― Mas nós não obtivemos nada.
Eu ― Elejam-me para o ministério e aprovarei uma
lei para abrir cozinhas populares para aqueles dentre
vocês que merecerem minha generosidade.
Você ― Viva! Viva! Nosso candidato!
(Um desfile com tochas)
(Fecham-se lentamente as cortinas)
Alexander Berkman