Para sobrevivermos na sociedade da mercadoria, somos forçados a explorar o outro, ou pelo menos ser coniventes com essa exploração.O desejo inculcado em nós de ter cada vez mais coisas nos faz desejar que as coisas cada vez mais custem menos. Desejamos produtos baratos, serviços baratos, comida barata etc. a despeito do quanto de trabalho e em quais condições de trabalho aquilo que desejamos consumir foi produzido.
A busca pela satisfação desse desejo torna o desejo pela intensificação da exploração do outro algo intrínseco à realização do nosso próprio bem estar. É essa condição de vida que nos coloca diariamente em guerra uns contra os outros. Em um mundo aonde tudo está a venda, quem não tem o que vender vende a si mesmo. E o preço dessa venda, o valor que se dá para a pessoa não é determinado pelas suas necessidades diretas, mas pela sua capacidade contribuir para a acumulação geral de riquezas. Efetivamente desejamos que as pessoas tenham e sejam menos que nós para podermos ter e ser mais do que elas.
Se temos o pão por um preço baixo, de que nos importa a exploração a que são submetidos o atendente da padaria, o padeiro, o cultivador de trigo e assim por diante? Se algum desses, certamente com muita luta, conseguir o direito à um salário maior e isso acabar aumentando o preço do pão, é óbvio que nos colocaremos contra o trabalhador. O culpado não pode ser o nosso modo de vida atual ou o dono da padaria que emprega o padeiro com altas margens de lucro.
Assim, através do consumo, somos todos exploradores e explorados. Somos todos exploradores de nossos iguais e explorados quando estamos no papel do padeiro, quando somos nós os empregados. Todos fabricamos, todos os dias, as correntes com as quais seremos encarcerados.
E longe disso ser um julgamento à moralidade do consumo, trata-se de uma constatação da bizarrice desse mundo de ponta cabeças que nos vendem como “o melhor mundo possível”. Não existe “consumo moral” em um mundo aonde o simples ato de consumir está alheio a sua contraparte na produção.