Todos podemos ser ricos

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Abundância e escassez não são somente medidas de recursos existentes para a satisfação das nossas necessidades, são formas diferentes de relacionar os próprios recursos e as próprias necessidades em si. E isso acaba refletindo na forma como enxergamos o mundo.

Recursos abundantes excedem a necessidade por eles; eles podem até multiplicar quando utilizados. A maior parte das coisas que diferenciam “viver” de “sobreviver”, tais como amor, amizade, confiança, imaginação, coragem, aventura, experiências, estão disponíveis em abundância: quanto mais se toma parte neles, mais eles estão disponíveis para você e para todos os outros ao seu redor.

Por outro lado, recursos escassos existem em quantidade limitada, podendo não serem suficientes para as necessidades de todos. A economia de escassez é guiada pelas considerações feitas a partir das suas condições iniciais: nela, as leis de oferta e demanda são impostas, primeiramente por uma carência, seja ela real ou forjada, de bens necessários. Pode parecer que escassez é um fato inexorável da vida, mas não é tão simples. Nem toda escassez é imposta por condições específicas, e com frequência a impomos a nós mesmos pela forma como estimamos e aplicamos nossos recursos. Na nossa sociedade tecnologicamente avançada e pós-industrial, ferramentas e comodidades sem precedentes são abundantes, no entanto a maioria de nós sente que há uma carência de coisas das quais necessitamos. Isso não deveria causar espanto algum, já que os sistemas econômicos e sociais vigentes dependem que não exista o suficiente para todos para continuar existindo. A escassez e a privação são impostas, pintando-se a vida como uma corrida desenfreada por uma riqueza limitada e status social.

luxury-for-allDizem que os únicos homens livres são o mendigo e o rei. Eles de fato podem declarar-se senhores de tudo aquilo que que podem mensurar, por razões completamente diferentes: o primeiro possui o mundo inteiro por não se apropriar de nada, enquanto o segundo possui apenas aquilo que conquista. Aqui podemos perceber os paradigmas de escassez e abundância em atuação enquanto filosofias de vida. Assim como o catador, que prospera no excedente da sua sociedade, vê oportunidades e aventuras aonde um executivo só vê miséria e fome; o ídolo dos filmes ou da música precisa de milhões de fãs anônimos que os adorem (de forma que a própria individualidade é submetida a escassez em uma sociedade de espectadores), enquanto a mulher em um grupo de apoio mútuo geralmente alcança autoconfiança e felicidade quando os outros membros ao seu redor também o fazem.

Já houveram tempos nos quais os seres humanos tiveram uma relação de confiança com a Terra, vendo nela uma fonte de abundância: nós comíamos o fruto que brotava gratuitamente ao nosso redor, naturalmente embalado em uma embalagem biodegradável e que continha sementes das quais mais árvores frutíferas nasceriam. Hoje comemos guloseimas, compradas com o conteúdo criativo de nossas vidas, que possuem um estoque estritamente limitado e quando jogamos fora a sua embalagem, fabricados de plástico e substâncias químicas estranhas aos ecossistemas, que se adiciona na crescente pilha de lixo que torna cada vez mais escasso o fruto das árvores. Humanos de outras eras viviam em condições de banquete ou fome, festejando quando seus copos transbordavam e lutando juntos quando os tempos eram mais difíceis. Para nós, fome e banquete são experiências sociais. A nossa sociedade tecnológica a possibilita uma produção de alimentos sem precedentes e mesmo assim convivemos diariamente com a miséria e a fome.

be_realistic_demand_the_impossibleAbundância e escassez são, acima de tudo, manifestações de diferentes perspectivas da vida: ingenuidade ou inércia, confiança ou medo. Se reestruturarmos nossos valores e presunções a cerca do que o cosmos nos oferece, podemos entrar em uma nova era de abundância.

  • Quanto mais você reconhece as oportunidades na sua vida, mais você tira vantagem delas.
  • Quanto mais você reconhece os tesouros oferecidos pela vida, mais você tem confiança para os oferecê-los aos seus

Texto extraído, traduzido e adaptado de Crimethinc

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